quinta-feira, 9 de maio de 2013

Essência do Vinho Rio 2013 - Primeiro dia (quinta-feira)


Estive no evento no dia 02, quinta-feira, basicamente para comparecer ao painel 04, "Chile Wine Tour", onde o Alexandre Lalas daria uma palestra sobre o Chile e sua busca de identidade de seus vinhos, através de um panorama com 7 de seus melhores vinhos.

Cheguei um pouco cedo, resolvi dar uma passada nos stands, e provar alguma coisa sem exagerar, para não comprometer a noite, pois coisa muito boa estava planejada nessa palestra.

De quebra vi o stand da Cortes de Cima, o qual não pude resistir a visita. Gosto muito dos vinhos deles. Como não havia o Incognito, tampouco o Reserva para degustação, procurei o Petit Verdot e o Trincadeira, tendo sucesso apenas na segunda opção.

O Trincadeira é ótimo, muita fruta, redondo, agradabilíssimo. Um belo vinho. De quebra aproveitei para degustar novamente o Hans Christian Andersen, para mim a prova que concentração não necessariamente é sinônimo ou pré-requisito para um grande vinho. Nota 4 para o Trincadeira.

Pouco concentrado mas com incrível corpo, o vinho é muito bom, e seus aromas tostados permanecem vivos na taça um longo tempo após o término do caldo, bem como em boca sua persistência também é muito boa. Outro vinhaço deles. Nota 4,5 para ele.



Dali fui ao stand da Terramater. Lá, provei o Puro Instinto e o Sultán (acima), dois belos vinhos. O Puro Instinto custa cerca de R$200,00 no site da Terramater e é um blend com base Syrah muito gostoso, com Cab. Sauvignon e Franc em partes iguais (20%), e traz aquela potência dos grandes vinhos sulamericanos. É do Maipo Alto, com 18 meses de barrica de 1o uso. No site pelo boleto sai a R$175,12. Nota 4 de 5.

Já o Sultán (quem exerce o poder em árabe), com seus 97 ptos no concurso de enólogos do Chile e suas 3.925 garrafas, é um 70% Syrah com 15% de Malbec e 10% de Cabernet Franc, com 21 meses (!) de barricas francesas novas, oriundo do frio Casablanca. Muito mineral, no nariz o champignon toma conta. Depois de um tempinho surge uma fruta doce no fundo (no fundo?). Belíssimo vinho, boa acidez, e caro -> R$399,00. Nota 4,5 para o garoto, um vinho bem diferente e interessante.

Começo a ficar intrigado com os vales mais frios do Chile e seus vinhos, dois vinhos do Casablanca que também me trouxeram boas impressões foram os Loma Larga Malbec e Cabernet Franc. Outro que traz impressão correlata é o Kankana del Elqui, do vale del Elquí, com suas frias brisas marítimas.

Perto da hora de início, rumei para a sala 2 onde aconteceria o painel com os vinhos do Chile.

De quebra já fiquei um pouco chateado por conta do atraso de meia hora. Outro ponto que continua a me deixar profundamente chateado é a tremenda falta de educação do pessoal, que chega empurrando e forçando barra para aproximar-se, quase como competição. Enfm, não exaltemos as partes ruins.

Já devidamente sentado na mesa, gerenciando a expectativa...


O evento teve também a presença da Pedras Salgadas, água mineral natural de Portugal, naturalmente gasosa, igual à nossa querida São Lourenço. Gostei da água, embora bastante salgada (claro Felipe, olha o nome rs).

Bem, vamos aos vinhos.



O primeiro foi o Marina Sauvignon Blanc 2012 da Bravado Wines. A Bravado Wines é de um casal de enólogos (Felipe Garcia e sua esposa), oriundos de grandes vinícolas e que resolveram tocar o seu próprio projeto. De aspecto verdeal, com algo de mato (sério) no nariz, mas o maracujá dominante, coisa linda. Belíssimo vinho, acidez boa, sensação adocicada, muito bom mesmo.Me lembrou o Sauvignon Blanc da Chocalán, em um nível claramente superior porém.

100% S. Blanc, de 3 clones diferentes porém. 8715 garrafas. Bastante premiado:



O Lalas fez uma ótima observação: esse vinho consegue uma acidez que a maioria dos S. Blancs do Chile não consegue. Conseguiu me agradar mais que o S. Blanc da Vila Francioni, que havia provado anteriormente e gostado muito, estando os dois na mesma faixa de preço. Nota 4,5 de 5 pra ele.

O segundo vinho foi o Flaherty 2007, de base Syrah mas com boas partes de Cabernet Sauvignon e Tempranillo:



Cor de vinho evoluído, parecia um Porto ao ser vertido na taça, e no nariz. Depois modificou-se, aromas adocicados e em constante mutação. Boca rápida, bom vinho, interessante, gostei bastante no início, mas me decepcionou depois de um tempo. O Lalas o definiu como um vinho "sujo", e muitos informaram que esse vinho costuma confundir muita gente "expert". Começou muito bem mas terminou fraco na minha opinião. 3,5 de 5 pra ele.



O terceiro foi o Vigno. 100% Carignan do Maule, 30 meses de barricas francesas 25% novas, 90 ptos no Descorchados, feito pela Bravado Wines.  Fazem parte da Vignadores de Carignan, associação que vale ser conhecida. Bem escuro, um nariz meio chocolate, bom corpo, um vinho de presença em boca, ótima sensação de contato, ele realmente preenche a boca. Taninos perfeitos, e uma acidez boa também, que impede-o de se tornar chato. São 1.299 garrafas de vinhas de 54 anos de idade. Mais um belo vinho, 4 de 5 sua nota.



O quarto vinho me provocou um sorriso: Montelig! Aberto o 2004 no fim do ano passado, conquistou a todos os presentes, ofuscando um pouco o Pera Manca (ok, o portuga estava jovem ainda). Recebeu 92 ptos do RP e do descorchados, o que na minha modesta opinião é pouco. Como não ligo muito pro que eles falam, na minha opinião e na de muitos presentes o melhor vinho da noite. Composto de 40% Cabernet Sauvignon, e partes iguais de Petit Verdot e Carmenère, do Aconcagua, lar de grandes vinhos como o Seña e o Don Maximiano Founder's Reserve (os quais infelizmente ainda não provei). De aparência ainda jovem, nariz maravilhoso, delicado, em boca suave e agradável, mas com personalidade inconfundível. Confesso que era parecidíssimo com o 2004, embora com mais vigor e menos ervas. Sua estrutura é ótima, seu final memorável. Nota 5 de 5. Para muitos o melhor do Chile. Dentro do que já provei, o melhor do Chile e talvez o melhor de tudo que já bebi.

Partimos para o Amir (príncipe em árabe) 2008, do Maipo. 3.996 garrafas:



Base Cabernet Franc (50%), com boa parte de Syrah (40%) e traços de Petit Verdot e Malbec. Outro vinhaço! Já com aspecto evoluído (tem 21 meses de barricas), muita erva e fruta ao nariz, alguns condimentos também. Acidez agradável, concentrado, muito bom, "quase mastigável" foi a opinião do Lalas, imediatamente compartilhada. Junto com o Puro Instinto e o Sultán, esse é da Una Hectarea. Esse vinho é feito pelo Felipe Garcia, da Bravado Wines, o 3o com suas mãos do painel. Cara bom!

A Viña Una Hectarea é um projeto de um projeto familiar pertencente a um enófilo brasileiro, que arrenda terras de 1 Ha nos vales de Casablanca, Maipo Alto e Maule, e direciona esses vinhedos para produzir vinhos pessoais e únicos, pelas mãos de grandes enólogos.



O penúltimo vinho é o quase-lenda Toknar, 100% Petit Verdot de 24 meses de barricas francesas. Toknar significa pedra, e o vinho é muito potente, muitos taninos, muito boa acidez, quente, muito púrpura. Ao nariz um xaropão de frutas, muita madeira em boca, decantação obrigatória e muito, muito bom. Vinho para quem gosta de corpo, deve durar mais uns 10 anos. Repito: não é para os que preferem ou só gostam de delicadeza e elegância. Pelo menos, não por agora.


O último vinho foi o Tatay de Cristóbal. Vinho que já passa dos mil reais no site da Terramater, essa safra 2009 ganhou 93 do tio RP, enquanto a 2007 recebeu grandes 97. Muito jovem, muito "verde" na boca, mas delicioso! Cheiro literalmente de mato ao nariz! Também tem muita vida e incrível a quantidade de taninos desse Carmenère com 10% de Verdot.



No mais saí de lá satisfeito por conhecer os grandes da Siebenthal. Deles, só falta o Carabantes, de base Syrah com pequenas parcelas de Cabernet Sauvignon e Petit Verdot, mas esse vai aparecer aqui mais pra frente...

Agradecimentos ao meu amigo Osvaldo pelas fotos!

2 comentários:

  1. Parabéns pelo ótimo post, Felipe! Imagino como tenha sido difícil anotar e lembrar de tantos detalhes.
    E que grande evento, hein? Muitos tops, preço justo. Nessas horas é que dá vontade de voltar pra uma capital...
    Sobre os vinhos, suspeito que concordaria com vc: bater o Montelig não é mole. É um vinhaço!
    Abs.

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    1. Oi Vitor, obrigado!
      Realmente, tive que ir anotando quase em código no meu caderninho do Altaïr (outro vinhaço que recomendo, talvez comprando lá).
      Foi realmente um grande evento, confesso que sabendo de antecedência talvez dê tempo de se preparar, não?
      O Montelig é sensacional. Info de última hora: a terramater está fazendo uma "promoção", cobrando R$199,00 no site. Vai? Hehe.
      Atualizei as fotos, enviadas por um amigo.
      Abraço e obg. pela visita!

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