sábado, 22 de dezembro de 2012

Montelig 2004 e Pêra Manca 2007



Eu sei, eu sei. Muito quente. Mas graças a Deus alguém inventou o ar condicionado.

Em nosso almoço de despedida de 2012, a confraria mais uma vez se reuniu, para degustar dois vinhaços.

O Montelìg é da Viña Von Siebenthal. A Viña von Siebenthal é resultado do sonho de um advogado e da ajuda financeira de 4 amigos, que se tornou realidade em 1998. Localiza-se em Panquehue, no Vale do Aconcágua, Chile. Já ganhou prêmio de melhor vinícola do Chile, já esteve por aqui com seu belíssimo Carmenère varietal e seus vinhos tem (já de acordo com a nova norma gramatical rs) recebido boas notas do tio Parker. Esse Montelig por exemplo recebeu 93.

Montelig é a fusão de "monte" com "lig", que significa luz. Segundo eles, são os dois elementos mais representativos da paisagem chilena. Esse vinho é um corte de 65% Cabernet Sauvignon, 25% Petit Verdot e 10% Carmenère, com 18 meses em barris novos de carvalho francês.

O vinho é muito, mas muito bom. Já apresenta certa evolução na cor. Você percebe uma quantidade grande de frutas, baunilha, tostado, defumado. Na boca não possui arestas, num conjunto harmônico e belíssimo. A textura é excelente, provoca um sorriso e deixa uma lembrança de café, com um final enorme. Depois de um tempo, a Cabernet Sauvignon domina com o leve mentolado no nariz, e por incrível que pareça um herbáceo surge também, nos fazendo ponderar se a pequena parcela da Carmenère tem toda essa potência. Palmas, muitas palmas.

São 7.095 botellas, e esta foi a 6.701.

No site deles aconselham no mínimo 15 anos de guarda. Para mim o vinho está pronto.

E o Pêra-Manca? Toda essa rasgação de seda para o Montelig? Vai precisar de um poeta para falar do Pêra-Manca...

A história do Pêra-Manca é curiosa. Antes de tudo é necessário esclarecer: o nome é o mesmo, mas dificilmente o vinho é o mesmo que Cabral trouxe e ofereceu aos nossos ancestrais. Muito bem contada pelo colega Copello, o Pêra-Manca desapareceu em 1920 e retornou em 1988, quando o nome foi doado à Fundação Eugénio de Almeida. Acabou tomando o lugar do Cartuxa Garrafeira, que até então era o vinho top da casa.

O "Pêra" é feito apenas em safras consideradas excepcionais, o que sinceramente não parece ter sido difícil no Alentejo: 1990, 91, 94, 95, 97, 98, 2001, 03, 05, 07 e 08. Quando não vira o "Pêra", o vinho é vendido sob a insígnia Cartuxa Reserva, por cerca de 1/4 do preço. O 2008 então está inflacionadíssimo, passando dos R$800,00.

Aí a gente entra em outro assunto, o preço. Mas essa história é longa e controversa, dessa vez não vamos entrar nela. Ou pelo menos ainda. Um fato interessante é que o Brasil absorve boa parte da produção, e até gente que não bebe vinho com regularidade conhece o nome. O que nos leva a outro assunto, o nome forte da marca, mas já estaremos divagando demais.

O pêra-manca é um vinhaço. A base é sempre Aragonez (Tempranillo/Tinta Roriz) e Trincadeira. Começa fechadão, vai se abrindo aos poucos, e durante essa abertura se modifica rapidamente, passeando por todos aqueles aromas que você encontra nos bons alentejanos. Notadamente frutas levemente passificadas e ameixa, com algo das madeiras utilizadas para o vinho descansar. Interessante que são barris de 3.000 litros de mais de 50 anos, onde o vinho fica por cerca de 18 meses.

Na boca ele mostra uma estrutura muito boa, a impressão que deu é que ainda aguenta mais tempo em garrafa, podendo mostrar realmente todo o seu potencial num futuro próximo. Mas já dá um prazer imenso agora. É quase como um doutorado do vinho do Alentejo. Ou pelo menos boa parte dele.

Me desculpem mas não há comparação entre os dois, são estilos distintos, mas experiências interessantes para todos aqueles que apreciam um belo trabalho. O Montelig vai levar leve vantagem por se encontrar, em minha opiniao, pronto.

Notas -> 5 de 5 para o Montelig e 4.5 de 5 para o Pêra-Manca.

Preços -> R$198,00 o Montelig (foi promoção, o preço normal é R$322,00 na Terramater e na Lidador) e R$639,00 o Pêra-Manca no Rosita.

Sites -> Von Siebenthal e Cartuxa.

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